3º Capítulo.
Decidiu continuar a conversa sobre bebes. Era um terreno neutro e que conhecia muito bem.
— Como eu estava dizendo, todos os bebes passam por esta fase. Eles aprendem a usar o próprio corpo, a controlar seu pequeno mundo e ate a controlar os pais. Tenho certeza de
que o choro de Marie tirou a mãe dela da cama no meio da noite, muitas e muitas vezes. E uma especie de teste; o bebe quer saber se a mãe responde ao seu apelo.
Fez-se um longo silencio, entremeado apenas pelo som de Marie brincando com a banana.
— Marie teve o carinho e a atenção da mãe por pouco tempo. Seus pais morreram há sete meses. Sou o único parente da menina — Arthur expôs.
O olhar de Lua saltou da criança para o homem do lado da cadeirinha alta, cuja expressão parecia esculpida em pedra. Nos olhos cinzentos havia muita dor. A admiração dela por ele aumentou. Era como se partilhasse daquela tragedia familiar.
— Sinto muito. Eu não fazia ideia…
— Você não leu a noticia do acidente nos jornais?
Ela sacudiu a cabeça e Arthur franziu a testa, como se estivesse surpreso. Certamente ele a tomava por outro tipo de jornalista e estranhava o fato de ela, como dona de um periódico, ignorar uma noticia que, na época, devia ter causado impacto.
— Se você preferir, voltarei para a entrevista em outra ocasião — Lua sugeriu, fazendo menção de pegar a bolsa.
Arthur segurou a mão dela.
— Não precisa ir embora. Ainda doí muito falar sobre o assunto, mas estou aprendendo
a superar o que aconteceu.
O toque da mão dele desencadeou em Lua uma onda luminosa e incandescente.
Com esforço, perguntou:
— Como foi o acidente?
— Ocorreu perto daqui. Houve um defeito no sinal da estrada de ferro quando meu irmão e a esposa iam atravessar os trilhos e o trem expresso chocou-se com o carro deles. Só Marie sobreviveu porque estava bem amarrada com o cinto de segurança, na cadeirinha de bebe, no assento de trás. Pelo estado em que ficou o carro, foi um milagre ela não ter sofrido um arranhão sequer.
Desta vez Lua não conseguiu conter as lagrimas.
— Que tragedia terrível.
— Foi, mas a vida continua. Marie só tem a mim no mundo e estou disposto a criá-la da melhor maneira possível.
Marie, com as bochechas redondas, por causa das bananas, pulando na cadeirinha alta, era a imagem de uma criança sadia e feliz, Lua reconheceu. Não se considerando o babador e o rosto sujos de espinafre, a garota estava muito limpa usando um encantador vestido de tecido leve, com estampa de ursinhos. Um laco de fita cor-de-rosa enfeitava-lhe os cachinhos castanhos.
Marie estava em condições bem melhores do que o tio, cuja aparência era a de quem entrara apressado dentro da calca e não tivera tempo de barbear-se. Uma sombra azulada escurecia-lhe as linhas fortes do queixo e acentuava-lhe o ar de cansaço.
Lua desejou poder ajudar aquele homem que exercia tão forte poder de atracão sobre ela. Porem, viera ate a fazenda apenas para conseguir um artigo sobre a famosa casa de bonecas Aguiar e agora, sabendo da tragedia que se abatera sobre a família, como abordar o assunto? Impossível, decidiu.
— Lamento, mas e melhor eu ir. A entrevista pode ficar para ocasião mais propicia.
— Droga, você não precisa sentir pena de mim — Arthur replicou imediatamente. — Já chega o que tenho passado com meus vizinhos. Quero ser tratado como qualquer outra pessoa. Fique, Lua , e tome uma xícara de cafe comigo. Afinal, você disse que era melhor eu manter-me ocupado enquanto Marie esta comendo.
— Esta bem. Aceito o cafe, se não lhe der trabalho — tornou Lua , sorrindo.
— Preciso de um cafe depois do que passei esta manha. Como você quer o seu?
— Forte, com um tablete de açúcar — ela respondeu, sentando-se em um banquinho, perto do balcão.
Deu um meio sorriso ao observar o pacote aberto de flocos de cereais com chocolate e uma tigela de plastico com leite. Evidentemente, Arthur não tinha um breakfast saudável, deduziu. Em voz alta, comentou:
— Se é só disto que você se alimenta, não e a toa que parece cansado.
— Como conseguir tempo para cozinhar? — ele questionou, colocando a chaleira no fogo e deixando tudo preparado para o cafe.
— Se você quiser, faco uma omelete de dar água na boca — ela propôs.
Ele aceitou a ideia com entusiasmo e sentou-se, por sua vez, numa das cadeiras, perto da mesa.
— Ótimo. Mais tarde tomamos o cafe. Fique a vontade. Encontrara os ingredientes no refrigerador.
Pouco depois, Lua batia seis ovos, acrescentava um pouco de leite, juntava com fartura lascas de queijo e salsinha fresca que havia colhido dos pés que cresciam no vaso
de cerâmica sobre o parapeito da janela. A mistura foi levada ao fogo em uma frigideira de
ferro e em alguns minutos ficou pronta a delicia cheirosa e dourada que ela colocou, orgulhosa, no prato de Arthur .
— Já vi que você encanta os bebes e opera maravilhas na cozinha — ele elogiou-a, provando a saborosa omelete.
O orgulho de Lua impediu-a de dizer que só sabia fazer omeletes e nesse prato, realmente, era uma especialista. Observou com prazer Arthur comendo com apetite, e apreciou mais ainda as exclamações que ele emitia entre as garfadas.
— Hum! Que delicia! Muito boa mesmo!
Para ocupar-se, ela retirou os objetos sujos da mesa, lavou-os na pia, em seguida
limpou o rosto e as mãos de Marie, ergueu-a da cadeirinha alta e entregou-a ao tio.
— Agora os dois estão satisfeitos.
— Muito satisfeitos. Tivemos a sorte de receber esta fada-madrinha, não é mesmo, Marie? — falou Arthur , balançando a garotinha sobre o joelho, provocando-lhe o riso. — Esta vendo, Lua ? Ela concorda comigo.
O quadro daquele homem tão másculo abracado a garotinha, cuja cabeça estava repousada no peito nu, enterneceu Lua e fez com que suspirasse, desejando também poder ter um bebe no colo. Para distrair a atenção, sugeriu:
— A água já ferveu. Eu termino de fazer o café.
O fato de ocupar-se com o cafe e, depois, em procurar as xícaras no armário, deixou-a mais tranquila.
Voltou-se para Arthur para servir-lhe o café, mas tanto ele como o bebê encostado em seu peito dormiam, serenamente.
Boom por hoje é só...Até amanhã amores!
Comentem Bastanteee! ;;)
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